quarta-feira, 16 de junho de 2010

Diga-me o que lês e te direi ques és

     Não, não se espantem e nem pensem que sou um oráculo, uma bruxa, feiticeira, mãe de santo ou genéricos. O que pretendo, é construir um manual de instruções para que identifiquem um bom e um mal leitor. É verdade...! Tô falando sério! E é muito simples, pois é só lançar os diversos instrumentos de leitura em meu winchester e, automaticamente, os submeterei a uma leitura optimica, é claro. Em sequência, serão emitidas, pelo orifício bucal, as etiquetas e, nelas, impressos o valor do produto e um código de barras, que aliás, é o item fundamental nesse processo de identificação de bons leitores. Ele é que define se o material avaliado pertence ou não a categoria de um best-seller, se é de boa procedência, se é uma boa ferramenta leitora, razoável, morna ou até mesmo fria.
     Mas, você deve estar se perguntando porque são os materias que passam pela leitura optimica e não os presumíveis leitors. Muito fácil de explicar, caro leitor! Os leitores são imprevisíveis e, portanto, podem ler uma infinidade de coisas, o que define, portanto, um bom leitor, são os materiais, de acordo com a porcentagem de leitura das inutilidades, das genialidades, das vulgaridades que revelam um resultado, eu diria, mas preciso.
     Sou uma professora cientista, quer dizer, uma cientista professora, mas isso não vem ao caso, o importante é traçar as instruções adequadas na categorização dessas testemunhas oculares dos diversos textos que circulam todo dia por ai. Vale ressaltar, que as insatruções que aqui proponho foram analisadas e testadas pelos melhores laboratórios de revisão científica, passando por rigorosos testes de qualidade, obtendo o selo "JULG" 2012.
     Já deu pra perceber que meu trabalho possui respaldo dos especialistas e, devo dizer, dos meus colegas de trabalho, os cientistas professores ou professores cientistas. E digo mais, de toda a sociedade. Pra começar, um bom leitor não lê materiais que tenham menos de 50 páginas. Deixe-me explicar! Calma! Somos bons leitores por causa do volume de leitura que temos. Se não lermos muito, não poderemos adquirir os óculos, próprios dos C.D.Fs.
     Em seguida, precisamos estar atentos asos materiais de edição, que compõem a obra, ou seja, se possui capa dura, título em letras douradas e, deixe-me ver... Ah! páginas produzidas por celulose extraída dos pinheirais norte-americanos, ingleses, franceses, espanhóis, japoneses ou até, no máximo, russos. Isso comprova se as impressões registradas ali, são sérias, verdadeiras, exemplares, idôneas. Nada como um material importado...
     E, já que estamos entrando no terreno das impressões, o que dizer do aspecto "conteudístico"? Não me venham com essas leituras amenas, que reportam sobre os próximos capítulos das novelas globais ou mexicanas, pois essas pertencem a mais chula das categorias, das leituras banais, sem fundamento. Nem com aquela porrada de revistinhas, gibis, coquetel, sudoku, ... (eca!), que só trazem futilidades e especificidades leitoras que não interessam na atual conjuntura dos problemas sociais, políticos e econômicos que vivemos.
     Leitura boa é a dos livros enciclopédicos, dos metodológicos, científicos, literários, didáticos... Neles sim, circulam textos geniais, dignos de nossa leitura optimica.
     Mas, peraí... presumo que estamos equivocados. Desculpe isso pode ter sido um ledo engano. É que ser um bom leitor... bom leitor... não tem nada haver com isso. Um leitor proficiente lê de tudo um pouco, desde que necessite, desde que seja um ato prazeroso, seja para seguir instruções da nova máquina digital que você comprou e não sabe ainda como usar, seja para apresentar a um auditório um sermão, um poema, um discurso..., seja para repensar seu próprio texto, seja para analisar uma obra literária, ou ainda, ler para aprender, para se emocionar, para relaxar, entreter-se. O que importa é ler, sem preconceito, em casa, na rua, no escritório, no pátio, no parque, na praça. Afinal de contas, já nascemos lendo a vida, a mamãe, o papai, a novela, os gibis, e ai, se não podarem nossas asas, alçamos vôos por outros textos, nos enamoramos deles, nos embaraçamos por entre suas palavras, elas nos atravessam, nos remontam, até que nos damos conta de que também somos textos revelados ou implícitos, prontos ou inacabados... e, somos lidos.

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